domingo, 22 de maio de 2011

Tropicália corporativa

A repetição contínua da linguagem do mundo empresarial inventou um novo dialeto para a comunicação interna.
Trazido dos movimentos de vanguarda cultural pelos músicos e poetas brasileiros com o tom de criar uma identidade para a produção artística nacional, o tropicalismo poderia a base para a origem do termo tropicalização mencionado em nosso atual vocabulário na corporação.
O que entender sobre o significado deste termo além do Pato Donald dançando com maracas em Você Já Foi à Bahia?
A resposta é pensar em transformar uma situação não tropical em uma situação tropical para uma adaptação adequada à nossa realidade bananística.
Tudo pode ser tropicalizado dentro do circuito dos negócios: regras, equipes, acabamentos, preços, sistemas, decisões, comportamentos, layouts a fim de que a cultura externa seja replicada para nós e continuemos a participar ativos no mundo comercial.
Os ideais de funcionamento difundidos e funcionais (?) nos mercados externos serão adaptados à nossa maneira para que possamos trabalhar com selos de qualidade conhecidos internacionalmente mas que na prática depois de implantados, reconhecemos que não passam de gambiarras legais.
Cada medida cabe a uma situação diferente. O que acontece quando queremos sobrepor uma regra a uma situação completamente diferente? Uma realidade paralela.
Nesse paralelo tropical, vivem as vacas corporativas nacionais e latino-americanas, mugindo o termo tropicalização ou tropicalización para depois traduzí-lo para tropicalization para que nossos colegas estrangeiros nos entendam.
Este mecanismo funciona assim e muito dinheiro está envolvido. É necessário para os negócios que grandes companhias internacionais entendam que continuarão vivendo e funcionando da mesma maneira se vierem pastar aqui abaixo do equador.
É uma mentirinha? Pode ser que seja.
Chico Buarque até cantou: "não existe pecado do lado debaixo do equador" . Aqui tudo é possível, trabalhando com metas gringas e com nosso recursos, realmente tudo pode acontecer.
Extrapolar essa realidade que reflete alguma pobreza na capacidade de nosso mercado em criar uma identidade séria seria pensar que pode existir uma tropicália onde tudo pode funcionar à moda nacional.
Imaginemos uma sociedade criativa e rica em conteúdo original pronta para amadurecer e fazer frente aos mercados estrangeiros. É muito possível que o empreendedorismo nacional anônimo se utilizasse de todo seu potencial com uma bela dose de incentivo de nossa política e o cultivo do progresso.
Com tudo o que temos, só podemos ser artistas pobres dançando samba ao ritmo de hip hop. Vender a alma bonita para poder pagar a cerveja da sexta-feira nos faz um digno gado respirando ares condicionados, sentando em baias para trabalhar e comendo comida de vending machines.

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